O livro Bichos Vermelhos, da autora Lina Rosa Gomes Vieira da Silva, faz parte de uma estratégia encantadora: apresentar animais ameaçados de extinção por meio de suas características mais curiosas, nomes intrigantes e histórias surpreendentes. A ariranha, por exemplo, não tem qualquer relação com a aranha, mas seu nome já chama a atenção — e sua “assinatura” é uma mancha no pescoço.
Essa abordagem lúdica, que mistura humor, afeto e informação, funciona como uma chave de acesso ao mundo da biodiversidade brasileira, aproximando as crianças — e os adultos — de um tema que costuma ser tratado com excessiva seriedade ou distanciamento. Confira!
Como o tráfico de animais silvestres ameaça essas espécies?
O comércio ilegal de animais é uma das maiores ameaças à fauna brasileira, e isso fica evidente em diversas histórias apresentadas no livro. O bicudo, também conhecido como “garganta de aço”, é cobiçado por seu canto potente e sofre com a captura para o mercado de aves de gaiola. O periquito-cara-suja é o mais ameaçado entre araras, papagaios e periquitos, e o pintor-verdadeiro, que deveria enfeitar os céus, é frequentemente visto aprisionado em gaiolas.

Uma das histórias mais tocantes do livro de Lina Rosa Gomes Vieira da Silva, é a do porco-espinho esperança, descoberto apenas em 2013 em Pernambuco. Mal foi estudado pela ciência e já figura na lista das espécies em extinção. Isso mostra que a destruição dos habitats naturais ocorre em ritmo tão acelerado que até mesmo os animais recém-identificados correm risco.
O desmatamento é mesmo o vilão invisível?
A perda de habitat é, sem dúvida, um dos fatores mais constantes e devastadores no desaparecimento das espécies. Animais como o cachorro-do-mato vinagre e a codorna-buraqueira dependem de ecossistemas como o cerrado e a mata atlântica — hoje entre os biomas mais degradados do país. O lobo-guará, por exemplo, está na lista de espécies ameaçadas desde 1968, mas continua enfrentando os mesmos riscos causados pela fragmentação de seu território.
Grande parte dos animais apresentados pela autora Lina Rosa Gomes Vieira da Silva, não faz parte do imaginário popular. Poucos sabem, por exemplo, que o caburé-de-pernambuco é uma das menores corujas do mundo e que não é vista desde 2001. O tatu-canastra, com seu corpo robusto e velocidade impressionante para cavar túneis, e seu primo mais vulnerável, o tatu-bola, que por não cavar, se enrola e se entrega, revelam diferentes estratégias de sobrevivência que podem ou não funcionar em um mundo em desequilíbrio.
Como a linguagem leve pode falar de temas tão sérios?
A grande força de Lina Rosa Gomes Vieira da Silva, está em sua capacidade de tornar temas difíceis acessíveis. Em vez de adotar um tom pesado ou moralista, o texto aposta na curiosidade e na afetividade. Ao contar que o tamanduá-bandeira não tem dentes e por isso não pode morder, cria-se um vínculo imediato de empatia. Ao dizer que a tartaruga-de-pente tem esse nome porque sua carapaça foi, por muitos anos, usada para fabricar objetos de luxo, expõe-se uma prática cruel de forma clara, sem sensacionalismo.
Por fim, o conhecimento oferecido por Lina Rosa Gomes Vieira da Silva, não se encerra no livro — ele convida à ação. Ao nomear e apresentar cada animal como um personagem com história, personalidade e desafios, a obra constrói laços que podem se traduzir em atitudes.
Apoiar projetos de conservação, evitar o consumo de produtos que envolvam exploração animal, denunciar o tráfico de animais silvestres e, principalmente, educar crianças e jovens sobre a importância da biodiversidade são caminhos possíveis. O livro é uma semente: cabe a cada leitor fazê-la germinar em forma de cuidado, respeito e engajamento com o planeta que compartilhamos.
Autor: Wright Hughes